sábado, 28 de maio de 2011

E num Sábado qualquer...

Hoje acordo e dou com a notícia da morte de Gil Scott-Heron. Pai e padrinho do soul, e do jazz "político", que tanto me ajudou a perceber um país como os Estados-Unidos e as suas lutas cívicas, as suas convulsões económicas e as suas mudanças sociais aceleradas. Tudo isto, Scott-Heron foi mestre em capturar e satirizar num país cheio de contradições mas cheio de esperança e força.
Foi um dos músicos mais inspiradores. Um dos letristas mais dotados e simplistas na sua forma directa de aliar a música a letras de cariz politico-social. Um autêntico Bob Dylan negro, mas mais directo.
Tive o azar de o "conhecer" apenas há alguns anos para cá. Fiz dele a minha banda sonora, pelo menos uma vez por semana. E as ideias, as frases e os conceitos ficaram comigo, entre batalhas verbais e discursos corrosivos sobre esta sociedade que ajudamos, todos os dias, a crescer. Triste dia este, que morre um ícone que só amanhã será, devidamente, reconhecido.

Mas hoje, Sábado, acordo também, com a sensação de ter visto, ontem à noite, um dos filmes que irá, inevitavelmente, marcar a minha vida. Um filme que, sem sequer ainda existir, já vivia na minha mente há muitos anos. O filme é "The Tree of Life" e o realizador é o grande Terence Malick.
Filme que se vive como uma experiência tremendamente pessoal e intransmissível. Um filme que, por mais que se tente, não se consegue explicar, resumir ou definir. Nenhum cineasta filma como ele e o filme transforma-se numa narrativa experimental ao nível das nossas sensações em relação a uma série de temas recorrentes da filosofia moderna: porque é que estamos aqui? É apenas uma das questões levantadas e que, algumas pessoas, poderão ver a resposta em "The Tree of Life".

E por último, a notícia que hoje marca o dia. A uma semana de irmos a eleições, PSD e PS voltam a cruzar caminhos e encontram-se, exactamente, no mesmo sítio do que quando iniciaram esta caminhada eleitoral: num empate técnico sem razão e sem sentido, num país que recusa a mudança mas que ignora o passado. Triste sina e triste fado que se arrasta por esta gente que aqui anda...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que os 3 amigos não viram.



Bela reportagem em volta da campanha do PS em Cuba, no Alentejo. Tudo desnecessário. Tudo uma perda de tempo e um gasto de dinheiro público. Que triste é ver a reacção efusiva de uns contrastando com a apatia e a resignação de outros. É o retrato de Portugal e da atitude derrotista, tão característica nossa.

A vida dos Políticos em Portugal.

A situação patrimonial dos dois candidatos a Primeiro-Ministro de Portugal, nas próximas eleições, esteve em análise no Correio da Manhã.


Tiveram acesso às declarações de rendimentos do ano de 2009 apresentadas no Tribunal Constitucional e concluíram que José Sócrates, por ter uma vida política activa desde 1986, tem vários rendimentos presentes no Tribunal Constitucional, enquanto que Pedro Passos Coelho apenas tem duas, sendo que uma delas (em 1995) aconteceu enquanto era ainda estudante, pelo que não declarou rendimentos.


No final de 2010, José Sócrates tinha uma situação patrimonial confortável. Exercendo o cargo de Primeiro-Ministro, ganhou 106.781 euros, no ano de 2009, não declarando, no entanto, qualquer sinal de débito o que significa que o apartamento localizado na Rua Brancaamp já se encontra pago. Igualmente pagos estão dois créditos pessoais, no valor de 45.225 euros, contraídos pela Caixa Geral de Depósitos.

Pedro Passos Coelho entregou a sua declaração de rendimentos em 2010 já como presidente do PSD e apresentando uma situação diferente da de José Sócrates. Como administrador da empresa Fomentinvest declarou ganhar 96.391 euros em 2009. Tem dois débitos bancários contraídos, um no BCP e outro na CGD, no total de 277.782 euros. É proprietário de dois apartamentos na zona de Massamá.


As diferenças não ficam por aqui: Sócrates, para além de viver no centro de Lisboa, a nível particular, é proprietário de um Mercedes-Benz, de alta gama. Já Pedro Passos Coelho é proprietário apenas de um modesto Opel Corsa e tem residência em Massamá.


Estas visões são díspares e servem para dar a conhecer de perto a situação económica de quem nos pode vir a governar. No caso de Sócrates será uma repetição, e no caso de Passos Coelho um deslumbramento de uma vida que nunca teve. Serão estes os homens certos, no lugar certo e na altura certa?

terça-feira, 24 de maio de 2011

O Trabalho em Portugal (parte 03)

Facto #03

Levanto-me para ir à casa-de-banho e dou de caras com uma situação incómoda.

À beirinha de uma das mesas do "open space" onde trabalho, está reunido, cuidadosamente, um belo montinho de unhas. Sim, de unhas.

E quando dou por mim, estou parado, com uma cara de nojo tremendo a olhar para a mesa e, lentamente, a olhar para o "artista" que está a fazer este espectáculo público tão triste e deprimente.

E o pior é que o "artista" trazia calçadas uma belas sandálias, estilo romano, com meia branca e estava com uma delas em cima da mesa. E sim, as unhas não eram as da mão...

Segui o meu caminho e quando voltei a passar por ele, disse a mim próprio para não olhar, outra vez. E assim foi. Apenas fico com a memória de um momento inesquecível, pelas piores razões possíveis. E, assim é o trabalho em Portugal.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nova Ágora em Madrid.

Há já alguns dias que isto vem a acontecer e já há alguns meses que se vinha a prever.

Em Madrid, a escassos metros do Congresso dos Deputados, existe um outro Congresso em co-existência. Vários cidadãos decidiram criar um novo Parlamento no meio da rua. Em vez de filas de cadeiras repletas de deputados existem metros quadrados de pavimento ocupados por protestantes liderados por um "Presidente" que serve de moderador.
Este moderador serve de incentivo e de ouvinte de uma série de propostas. Vai anotando cada uma delas num bloco e, antes de passar à próxima, decide fazer um resumo da mesma. Existem 24 pontos abertos a propostas que, com o simples levantar de um braço, podem ser ouvidas. Existem várias comissões espalhadas pela Puerta del Sol, especializadas em áreas tão distintas como a Comunicação, as Infra-Estruturas ou a área Alimentar. E cada uma destas comissões estão localizadas em tendas de campismo. É a nova Ágora da Puerta del Sol. Os cidadãos falam dos temas em dia, com conversas umas mais amenas que outras, mas sempre com a participação civil no centro do tema.
Consideram injustas as regras aplicadas durante este Governo PSOE como a "Ley Sinde" (Ley de la Economia Sostenible - que, em resumo, é a lei que dá direito ao Ministério da Cultura da actual Ministra Ángeles Gonzales-Sinde, de encerrar páginas web que exponham os direitos de propriedade intelectual através de denúncias de particulares, de cantores, de uma discográfica, de uma televisão ou dos seus representantes legais, e sem qualquer intervenção jurídica, decidir no prazo de 3 dias, através de uma Comissão da Propriedade Intelectual, encerrar a página de internet visada).
Consideram injustas as regras aplicadas durante este Governo PSOE como a "Ley de Extrajeria", que aborda questões debativéis e polémicas como a impossibilidade de expulsar de Espanha qualquer emigrante que tenha algum filho inscrito numa escola pública, mesmo que este esteja em situação ilegal.
E todas esta "injustiças" são proclamadas através da praça por um megafone que debita ideias e alimenta polémicas.
"Temos que acabar com o apoio estatal à Igreja", diz uma mulher de um lado. "Devemos ajudar as famílias desalojadas e não os bancos", diz um homem do outro. E durante uma hora e meia, este moderador vai juntando estas ideias de modo a perceber o consenso das pessoas em relação a cada tema.

A manifestação deu-se no 15 de Maio e reuniu milhares de pessoas por Madrid. E a "nossa" manifestação da "Geração Rasca" serviu de mote. As pessoas indignadas com a situação económica, social e política em Espanha resolveram manifestar-se e decidiram criar este micromundo no seio da capital espanhola. Organizaram-se para garantir as necessidades básicas e, em seguida, começaram a articular um discurso possível de ser explicado à Sociedade Civil onde se expoem uma queixa global e generalizada contra as carências do sistema democrático vigente em Espanha. Tratou-se de criar um fio conductor capaz de aglutinar o amplo e heterogéneo número de pessoas que fazem parte deste movimento espontâneo. Um movimento que, para além das pessoas presentes na praça, junta agora o espírito colectivo de desencanto global de uma parte substancial da população. O movimento enche-se de apoios e três vezes ao dia existem assembleias públicas de debate.
Sábado vai-se dar uma última manifestação de reflexão. Um dia antes das eleições para o Ayuntamiento de Madrid. Na Segunda-feira, provavelmente, Zapatero terá que receber este jovens para os ouvir e oscultar a verdeira queixa da população manifestante.

Nas assembleias de ontem deram o seu apoio a uma série de propostas que, sumadas às sugestões que as pessoas iam deixando em várias caixas distribuídas pela praça, formarão a base do que se irá submeter a votação , criando um manifesto repleto de ideias e sugestões concretas. Aqui estão algumas:

- Abolir as leis injustas. Suprimir e substituir decretos como a Ley Sinde, o Tratado de Bolonha, a lei da emigração, a lei dos partidos ou a lei eleitoral. Todas as leis, denominadas, importantes, devem ser precedidas de um referendo democrático e popular.

- Fazer um referendo para votar e escolher entre a Monarquia e a República, enquanto alguns defendem o total desprendimento constitucional da Casa Real com a República vigente.

- Reformas fiscais que favoreçam as classes sociais mais baixas. Que pague quem mais tem e que o IVA seja um imposto progressivo. Para além destas medidas, pedem ainda que se nacionalize os Bancos que foram resgatados.

- Favorecer o transporte público criando uma rede de corredores para bicicletas e criando descontos nos passes para desempregados.

- Reformas nas condições laborais da classe política. Defendem a supressão dos ordenados vitalícios, a implementação do número de políticas e leis a concluir em cada mandado, listas eleitorais "limpas" e livres de deputados sem qualquer caso de corrupção política

- Desvinculação da participação do Estado na Igreja. A religião deve ser circunscrita a algo intímo bem como os juízes que se devem manter afastados da vida política.

- Democracia participativa e directa. Apostar por um funcionamento da assembleia com base nos seus cidadãos (bairros e freguesias) com apoio e divulgação na Internet e nas novas tecnologias.

- Melhorar e regular as condições laborais. Acabar com a precariedade salarial e o abuso do trabalho realizado por alunos com bolsas de estudo, estabelecendo um salário mínimo de 1.200 euros, com a garantia do Estado na procura de emprego e igualdade salarial.

- Encerrar imediatamente as centrais nucleares espalhadas pelo país e apoiar a economia das energias sustentáveis.

- Recuperação das empresas públicas que sofreram privatizações.

- Redução no gasto com os militares, encerrando fábricas de armamento e recusando qualquer intervenção militar no estrangeiro.

- Recuperar a "Memória Histórica" condenando qualquer uso do Franquismo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Merkel errou.

A Chanceler alemã atacou ontem os países do sul da Europa, referindo que tinham dias de férias a mais e que a idade da reforma era excessivamente baixa. Ora a senhora Merkel, que tem fama de ser metediça esqueceu-se que os números referem uma história diferente. Bem diferente. E se ao nível da produtividade pode-se discutir com os alemães, ao nível do número de horas de trabalho por semana é totalmente injusta estas afirmações difamatórias. Até porque a Alemanha, dentro da zona Euro, é apenas a segunda nação com mais horas de trabalho (35,7) enquanto que Portugal é o quarto país onde se trabalha mais (38,9). Á nossa frente apenas se situam a Eslovénia, a Eslováquia e, curiosamente, a Grécia com 42,5.


Há que ser cuidadoso e ter algum tento na língua, porque deitar abaixo uma nação já de rastos é das tarefas mais simples que há. E dizer que em Portugal é só sol e praia e que o trabalho fica para segundo plano é de uma injustiça tal que é o mesmo que nós dizermos que na Alemanha eles trabalham a correr para poderem sair cedo para ir ao Festival da Cerveja enquanto têm luz do dia. Haja quem nos defenda.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Acertou na "mouche".

Manuel Maria Carrilho diz o seguinte sobre a polémica lançada sobre Passos Coelho acerca do Programa "Novas Oportunidades":


"...Em termos de aprendizagens, José Sócrates gosta muito de processos instantâneos, até pelo seu percurso pessoal, eu sinto que ele tem uma certa tendência para apadrinhar o fast-food educativo."

Os Críticos, dizem eles.

Pedro Passos Coelho dizia, no outro dia, que o Primeiro-Ministro cessante, José Sócrates, tinha sido destinado a exercer este cargo. Tinha sido preparado durante anos, pelo o chamado "aparelho partidário" do Partido Socialista, para se tornar nesta "fera política e mediática" que hoje assistimos incrédulos enquanto ele nos apresenta, sempre, um cenário irreal do País.


Miguel Urbano Tavares Rodrigues escreveu um artigo de opinião que agora divulgo aqui porque me sinto próximo destas suas opiniões. Sinto que é necessário acordar os portugueses que se deixaram levar por cantigas de embalar e que hoje são os mesmos que irão dar votos no dia 05 de Junho.


"Pertenço a uma geração que se tornou adulta durante a II Guerra Mundial. Acompanhei com espanto e angústia a evolução lenta da tragédia que durante quse seis anos desabou sobre a Humanidade. Desde a capitulação de Munique, ainda adolescente, tive dificuldade ementender porque não travavam a França e a Inglaterra o III Reich Alemão. Pressentia que a corrida para o abismo não era uma inevitabilidade. Podia ser detida.


Em Maio de 1945, quando o último tiro foi disparado e a bandeiro soviética içada sobre as ruínas do Reichstag, em Berlim, formulei como milhões de jovens em todo o mundo a pergunta: como foi possível?


Hitler suicidara-se uma semana antes. Naqueles dias sentíamos o peso de um absurdo para o qual ninguém tinha resposta. Como pudera um povo de velha cultura, o alemão, que tanto contribuíra para o progresso da Humanidade, permitir passivamente que um aventureiro aloucado exercesse durante 13 anos um poder absoluto. A razão não encontrava explicação para esse absurdo que precipitou a humanidade numa guerra apocalíptica (50 milhões de mortos) que destruíu a Alemanha e cobriu de escombros a Europa?


Muitos leitos ficarão chocados por evocar, a propósito da crise portuguesa, o que se passou na Alemanha a partir dos anos 30. Quero esclarecer que não me passa sequer pela cabeça estabelecer paralelos entre o Reich hitleriano e o Portugal agredido por Sócrates. Qualquer analogia seria absurda. São outros os contextos históricos, os cenários, a dimensão das personagens e os efeitos. Mas hoje também em Portugal se justifica a pergunta: como foi possível?


Sim. Que estranho conjunto de circunstâncias conduziu o país ao desastre que o atinge? Como explicar que o povo que foi sujeito da Revolução de Abril tenha hoje como Primeiro-Ministro, transcorridos 35 anos, uma criatura como José Sócrates? Como podem os Portugueses suportar passivamente a cinco anos de humilhações de uma política autocrática, semeada de escândalos, que ofende a razão e arruina e ridiculariza o País perante o Mundo?


O descalabro ético socrático justifica outra pergunta: como pode um Partido que se chama Socialista (embora seja Neo-Liberal) ter desde o início apoiado maciçamente com servilismo, por vezes com entusiasmo e continuar a apoiar, o desgoverno e despautérios do seu líder, o cidadão Primeiro-Ministro?


Portugal caiu num pântano e não há resposta satisfatória para a permanência no poder do homem que insiste em apresentar um panorama triunfalista da política reaccionária responsável pela transformação acelerada do país numa sociedade parasita, super endividada, que consome muito mais do que produz.


Pode muita gente concluir que exagero ao atribuir tanta responsabilidade pelo desastre a um indivíduo. Isso porque Sócrates é, afinal, um instrumento do grande capital que o colocou à frente do Executivo e do Imperialismo que o tem apoiado. Mas não creio neste caso empolar o factor subjectivo. Não conheço precedente na nossa História para a cadeia de escândalos maiúsculos em que surge envolvido o actual Primeiro-Ministro. Ela é tão alarmante que os primeiros, desde o mistério do seu diploma de Engenheiro, obtido numa Universidade fantasmática (já encerrada), aparecem já como coisa banal quando comparados com os mais recentes.


O último, nestes dias tema de manchetes na Comunicação Social, e já dele se fala além fronteiras. É afinal um escândalo velho, que o Presidente do Supremo Tribunal e o Procurador-Geral da República tentaram abafar, mas que retornou à actualidade quanto um semanário divulgou escertos de escutas do caso Face Oculta.


Alguns despachos do Procurador de Aveiro e do Juíz de Instrução Criminal do Tribunal da mesma comarca com transcrições de conversas telefónicas valem por uma demolidora peça acusatória reveladora da vocação liberticida do Governo de Sócrates, para amordaçar a Comunicação Social.


Desta vez o Primeiro-Ministro ficou exposto, sem defesa. As vozes de gente sua articulando projectos de controlo de uma emissora de televisão e de afastamento de jornalistas incómodos estão gravadas. Não há desmentidos que possam apagar a conspiração. Um mar de lama escorre dessas conversas, envolvendo o Primeiro-Ministro. A agressiva tentativa de defesa deste afunda-o mais no pântano. Impossibilitado de negar os factos, qualifica de "infame" a divulgação daquilo a que chama de "conversas privadas".


Basta recordar que todas as gravações dos diálogos telefónicos de Sócrates com o banqueiro Vara, seu ex-ministro, foram mandadas destruir por decisão (lamentável) do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, para se ter a certeza de que seriam muitíssimo mais comprometedoras para ele do que as "conversas privadas" que tanto o indignam agora, divulgadas aliás, dias depois de, num restaurante, ter defendido em amena "conversa" com dois ministros seus, a necessidade de silenciar o jornalista Mário Crespo da SIC Notícias.


Não é apenas por serem indesmentíveis os factos que este escândalo difere dos anteriores que colocaram José Sócrates no banco dos reús do Tribunal da Opinião Pública. Desta vez a hipótese da sua demissão é levantada em editoriais de diários que o apoiaram nos primeiros anos e personalidades políticas de múltiplos quadrantes que afirmam, sem rodeios, que não tem mais condições para exercer o cargo.


O cidadão José Sócrates tem mentido repetidamente ao País, com desfaçatez e arrogância, exibindo não apenas a sua incompetência e mediocridade, mais o que é mais grave, uma debilidade de carácter incompatível com a Chefia do Executivo. Repito: como pode tal criatura permanecer como Primeiro-Ministro? Até quando, Sócrates, teremos que te suportar?"

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ideias para Portugal

Ideias de Esquerda. Ideias de Direita. Ideias Utópicas ou ideais Reais. Este é o nosso mundo. Este é o nosso país. Vamos começar por debater e acabar por decidir.

Num país que tem andado para trás em tantas medidas e decisões, ao longo dos últimos 30 anos, pedem agora, talvez mais que nunca, uma série de debates e de decisões pensadas de acordo com o mundo em que hoje vivemos e com as realidades que se apresentam à nossa frente.
É necessário um exercício de Cidadania participativa, não podemos mais ficar expectantes e espectadores de um desenrolar de ideias, propostas, leis e decretos que farão a História de Portugal dos próximos 30 anos. Este é o momento de agirmos em conjunto e participarmos. Temos todos, a meu ver, capacidade de incluir o nosso pensamento e as nossas visões de Portugal, e do que queremos deixar para os nossos filhos e netos.


E por isso decidi juntar-me ao grupo de pessoas que vê o país como uma tela branca em que todos podemos dar as nossas pinceladas, ainda que no fim, o verdadeiro pintor possa decidir não incluir a nossa participação no grande quadro final. Pelo menos temos a pinçelada desejada, o contributo honesto e a visão afirmativa necessária.
O que fazer neste país a nível social, político, económico e empresarial?

Aqui vão algumas ideias:

1 As Empresas Públicas deveriam ser obrigadas a reduzir os vencimentos dos seus administradores, de modo a que nenhum deles fosse ganhar mais que dez vezes o Ordenado Mínimo praticado em Portugal (neste momento, em 2011, está em 485 euros).

2 Qualquer Empresa, do sector Público ou Privado, deveria repartir entre os seus trabalhadores o ordenado de um empregado que, por razões várias, decide pedir a Reforma Antecipada ou, em qualquer caso, se for aplicado o Despedimento com Justa Causa.

3 Proibição a qualquer tipo de campanha publicitária originária de Empresas de Crédito Pessoal (Cofidis, Cetelem, Flexibom, Credijet) ou de Empresas de Crédito Imobiliário (Capital Mais, Credipoupa,...) através de afixação de anúncios de rua ou entrega de panfletos publicitários nas caixas de correio.

4 Diminuição obrigatória de 10 a 15% de Agências Bancárias em Portugal Continental, Madeira e Açores, aplicada a todos os Bancos portugueses em actividade, poupando em custos de manutenção, de remodelação dos espaços e da criação desnecessária de postos de trabalho.

5 Privatização das Empresas Públicas relacionadas com o transporte público (Refer, Ren, CP, Carris, Metro e Tap)face à falta de crédito derivado do excessivo endividamento destas mesmas empresas.

6 Permitir e implementar a Renda Básica de Cidadania, distribuíndo, em forma de valor monetário, o poder público de forma igualitária, não importando o nível social ou a disposição para o trabalho de quem recebe.

Nesta questão, vale a pena explicar bem o que se pretende:

O método de Renda Básica de Cidadania é uma teoria contemporânea que está a ganhar força e por isso deve ser divulgada e discutida.

O conceito é que todos os cidadãos tenham um rendimento mensal independentemente do seu emprego, formação, idade, etnia, etc. O conceito é o de eliminar as grandes consequências da pobreza tornando-se um mecanismo mais justo e promotor do desenvolvimento.

Os defensores deste modelo acreditam que ele pode dinamizar fortemente o mercado de trabalho conduzindo progressivamente a melhor qualidade e à melhor coordenação entre empregos e trabalhadores, como já aconteceu no Brasil e na Holanda, por exemplo.

O sistema tem vantagens claras a nível de redução do crime, acabar com a miséria, facilita o acesso ao auto-investimento e até ao risco calculado. É também de mais fácil implementação que outros sistemas sociais, pois não necessita de análises e cálculos complexos para descobrir quanto cada pessoa deve receber.

Naturalmente, o grande inconveniente deste sistema está ao nível da cobrança, pois é algo mais que vai sobrecarregar o orçamento nacional, no entanto, seria um direito inalienável de todos de usufruírem de uma parte das riquezas produzidas na região onde residem. Este sistema já funciona, por exemplo, no Alasca, onde a principal fonte de rendimento advém das receitas do Petróleo.

Existem várias propostas de como deve ser angariado o fundo para a redistribuição dessa riqueza. Pode ser através da implementação de impostos locais, pelas criação de taxas sobre concessões de extração de recursos naturais, pela criação de um valor monetário às empresas que consigam importar os seus produtos, ou por simples iniciativas municipais ocasionais, como lotarias, por exemplo.

O grande teórico deste sistema, actualmente, é o cientista político belga Van Parijs se bem que o sistema foi idealizada através de uma campanha panfletária em 1795 por Thomas Paine, onde se discute as origens da propriedade e vem em conjunto com a ideia de igualitarismo baseado em activos.


A aplicar esta taxa deveria começar pelos mais necessitados e ir crescendo pela sociedade de forma gradual consoante o seu vencimento.


7 Aplicar a Regionalização. Desta forma, a descentralização do País poderia ajudar outras Regiões a autonomizar-se economicamente podendo, desta forma criarem a sua própria riqueza e dependerem menos do poder central.

8 Autonomizar as Regiões implicaria cada região criar incentivos à Habitação Jovem, às Rendas Controladas e à criação de Preços adequados a cada zona do país. Desta forma, a população teria incentivos a re-colocar-se noutras zonas do País estabelecendo uma faixa etária mínima, e um tempo de permanência fixo na região.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Este Homem anda aos Papéis!

Eduado Catroga levantou a questão principal do dia: Pintelhos ou Pentelhos?

Depois de uma semana atípica para este senhor, onde incluímos o engano no Fórum da TSF, na segunda-feira de manhã, onde defendia a reestruturação do IVA, passando alguns produtos para taxas superiores do IVA dando como exemplo “a cerveja que não deve estar na taxa reduzida”. O pior é que a Cerveja é um produto que já paga taxa máxima de 23%, o que obrigou o economista a esclarecer ao Económico que "foi um Lapsus Linguae”, pois “estava a pensar no vinho”, enquanto produto para subir de escalão.

Em seguida foi uma entrevista concedida ao Jornal de Negócios, na Terça-Feira, em que afirmava que “deve-se caminhar para apenas duas taxas” no IVA, lembrando numa entrevista posterior ao Público que foi António Guterres quem criou a taxa intermédia deste imposto e chegando mesmo a questionar: “a taxa intermédia serve para quê? Há aqui um grande potencial de aumento da receita”. A discussão em torno deste tema é politicamente delicada, pois discute-se como é que o PSD propõe compensar a redução da taxa social única já a partir de Janeiro de 2012.

Horas depois, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, garantiu que é ele quem toma as decisões políticas e que é “absolutamente falso” que os social-democratas queiram terminar com a taxa intermédia. A opinião de Catroga é apenas técnica, justificaram os assessores do partido, mas a máquina do PS não deixou escapar a diferença de opinião para lançar a suspeição de que o PSD poderá avançar com um substancial aumento de impostos no pós-eleições.

Já na quarta-feira concede uma entrevista o Público em que compara José Sócrates a Adolph Hitler, ao responder a uma pergunta sobre as sondagens. “O Hitler tinha o povo atrás de si até à derrocada, até à fase final da guerra. Faz parte das características dos demagogos conseguirem arrastar multidões. José Sócrates, honra lhe seja feita, é um grande actor, um mentiroso compulsivo, que vive num mundo virtal em que só ele tem razão”. A reacção do PS foi enérgica, com lamentos de dramatização sobre a forma de fazer política.

Mas ainda há mais...

Em entrevista ao Jornal Económico, Eduardo Catroga abre o livro das críticas à Caixa Geral de Depósitos, acusando o banco público de não ser transparente e de ter uma gestão dependente do Governo e pouco profissional. Em resposta, hoje publicada pelo mesmo jornal, o conselho de administração liderado por Faria de Oliveira expressou “choque profundo” por estas declarações. “Não as esperávamos de tão conceituada figura pública. Terão sido infelizes, com considerações muito injustas e injustificadas, afectando uma instituição de referência, que se rege por critérios de ética, isenção, rigor e competência”, reagiu o banco através de comunicado.

Ontem à noite, em entrevista à SIC Notícias, Eduardo Catroga volta a surpreender, ao criticar os políticos e os jornalistas porque “em vez de andarem a discutir as grandes questões que podem mudar Portugal andam a discutir, passo a expressão, pentelhos”. A expressão está a dominar as conversas nas redes sociais esta manhã.

Apresentámos medidas das mais importantes que foram apresentadas neste país. Pois ninguém discute. O PS não tem programa, anda-se a agarrar, quando o próprio PS assinou a redução da taxa social única”, lamentou na estação televisiva o coordenador do programa eleitoral social-democrata, depois de um dia em que várias vozes socialistas criticaram a proposta do PSD, que afinal está também no memorando assinado pelo governo com a troika.

Na mesma entrevista, Catroga revela uma conversa que teve com Teixeira dos Santos antes das legislativas de 2009, afirmando que o ministro das Finanças tentou convencer José Sócrates a reduzir esta taxa em vez do IVA. "Esta foi uma primeira confissão de um verdadeiro economista. Uma segunda confissão foi que foi ele [Teixeira dos Santos] que sugeriu à OCDE aquilo que a OCDE sempre defendeu que é baixar a Taxa Social Única", disse Catroga na entrevista à SIC Notícias.

Enfim. O resultado final não é positivo e apenas a atitude é de louvar. Este à-vontade é incómodo para muita gente (incluíndo para mim...) e não há desculpa para este afrontar de ideias tão acertivas e conclusivas sem direito a ser interrogado ou questionado. Fica a sensação de "dejá-vu" e de não querer repetir erros do passado com este senhor. Fica a sensação que os melhores anos da sua carreira ficaram para trás e que há que enfrentar o futuro com outras pessoas. O passado do PSD está na imagem deste senhor. O futuro logo se verá.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Será que alguém vai ler?

Foi publicado, na semana passada, no Finantial Times, um artigo de opinião do cronista alemão, Wolfgang Munchau, um texto dedicado à forma como os responsáveis europeus têm lidado com a crise financeira que se alastra pela Europa.

No último parágrafo deste artigo, Munchau dedica-o ao Primeiro-Ministro cessante José Sócrates, criticando duramente a sua "exibição" em frente às câmaras na semana passada: "O seu anúncio, na semana passada, foi um alerta trágico-cómico da crise. Com o país à beira da extinção financeira, foi à televisão nacional orgulhar-se de ter garantido um acordo melhor do que a Grécia e a Irlanda. Além disso, garantiu que o entendimento não seria muito doloroso. Quando os detalhes foram conhecidos, poucos dias depois, percebeu-se que nada disso era verdade. O pacote contém cortes de custos severos, congela os salários da função pública e as pensões, aumenta os impostos e prevê uma recessão profunda nos próximos dois anos".


Gostaria de saber se esta opinião é generalizada noutros países da União Europeia? Gostaria de saber se existe esta visão patética da política portuguesa e dos seus representantes, lá fora? Porque se a resposta é sim, então a situação é mais grave e impactante que aquilo que qualquer um de nós pensa, pois a nossa visão no exterior conta, e muito, para o crescimento ou a total estagnação da economia portuguesa, quer ela tenha ajuda exterior ou não, o que neste caso até é indiferente.



quarta-feira, 4 de maio de 2011

No buraco que cavaram, não se metem eles.

Quando é que aprenderemos a não ter que duvidar de alguma Instituição Estatal? Quando é que vamos ter plena confiança nas pessoas que gerem certos e determinados Institutos, Empresas ou Fundações Públicas e na forma de serem financiados?

A Parque Escolar é uma Empresa que, por Decreto-Lei, existe desde 21 de Fevereiro de 2007, sendo dotada de autonomia administrativa e financeira, com património próprio, estando apenas sujeita à tutela do Estado. Foi criada com o objectivo, muito claro, de dinamizar e gerir o planeamento da modernização das escolas públicas em Portugal. Esse mesmo programa está assente em três pontos fulcrais para a sua missão poder ser encarada como necessária: requalificar e modernizar os edifícios que albergam as escolas secundárias através de programas onde são criadas condições para o desenvolvimento didáctico, tecnológico, informativo e comunicativo; criar condições nas infra-estruturas recuperadas de modo a envolver as comunidades com o Ensino Secundário; e criar um modelo de gestão dos edifícios recuperados através da correcta gestão e optimização dos recursos instalados bem como da sua manutenção e conservação após a intervenção efectuada às infra-estruturas existentes.

Ora, é neste último ponto que hoje me quero focar, em particular.

A Parque Escolar é, actualmente, a 5º Empresa Pública mais endividada do Estado Português, com cerca de 2 mil milhoes de dívida, independentemente de ser, também, uma das mais beneficiadas em termos de ajudas financeiras, através de investimentos e ajudas comunitárias bem como do pagamento de rendas através do usofruto de cada uma das suas infra-estruturas. Ainda assim, consegue criar à sua volta uma enorme interrogação em relação ao seu futuro, sendo pois, uma total incerteza.

Mas é em relação às Instituições que ocupam estes edifício recuperados que agora se incide o foco da polémica. De uma forma simples e directa, pode-se explicar da seguinte forma: a recuperação destes edifícios veio trazer um aumento exponencial nos consumos energéticos destas instituições, habituadas durante décadas a determinados gastos, mais ou menos, fixos. Estes aumentos, que só agoram se vão começar a ter em conta são, na maior parte dos casos, 3 a 10 vezes maiores do que o consumo que tinham anteriormente, pelo que se avizinham dificuldades para cumprirem o pagamento destes mesmos consumos elevados e, ao mesmo tempo, pagar as rendas a que se submeteram ao realizar estas obras de requalificação dos seus edifícios.

Os sistemas de AVAC (Ar Condicionado e Ventilação Mecânica), por exemplo, instalados nos edifícios consomem em excesso, pelo que o conforto térmico e a qualidade do ar irão, com certeza, resultar numa qualidade do ar em pior estado do que o que estavam antes das intervenções. Na grande maioria dos Edifícios intervencionados não foi, sequer, contemplada a possibilidade da integração de painéis fotovoltáicos para diminuir a factura energética, por exemplo.

As facturas dos consumos energéticos estão, neste momento, a rondar os 8.ooo euros por mês, nalguns casos e noutros os 10.000 euros por mês. A raíz deste problema reside na concepção dos projectos tanto de Arquitectura como de Especialidades. Não se fez um cálculo ajustado para manter os valores pelos quais foram concebidos, pelo que agora começam a surgir os problemas ao nível do pagamento referentes ao uso dessas mesmas instalações.

As Escolas Secundárias não têm, actualmente, recursos financeiros suficientes para manter esses sistemas a funcionar em pleno. Em consequência, as Escolas irão, certamente, cortar nestes sistemas optando pela sua não utilização, ajudando, portanto, a piorar a qualidade do ar através da sua falta de ventilação e renovação.

Ainda assim, algumas Escolas beneficiaram da instalação de painéis fotovoltáicos, esperando, assim, que estes possam ajudar significativamente na redução dos consumos e da factura mensal. Mas, até ao momento, apenas 3 Escolas estão abrangidas por esta facilidade. No entanto, a relação custo/benefício é, ainda, negativo. Não respeitando os regulamentos nacionais para a aplicação obrigatória em todos os edifícios novos, vamos agora assistir a uma manifestação de intenções e de incompetência que pode não passar do papel e, mesmo que se transforme em realidade, são projectos que devem ser idealizados de raíz com a construção destas infra-estruturas.

Em relação aos seus planos de trabalho, a Parque Escolar, que tem em carteira a remodelação de cerca de 100 escolas no panorama Nacional, afirma convictamente, que é necessária a dinamização de sector da Construção Civil em Portugal pelo qual eles são os grandes responsáveis.

Mas vejamos bem de onde surge este dinheiro a que chamam Investimento: a Parque Escolar foi financiada, inicialmente pelo QREN (Quadro de Referência Estratégica de Portugal - fundos comunitários)depois, mais tarde, pelo PIDDAC (Programa de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central - orçamento de estado), e finalmente pelo BEI (Banco Europeu de Investimento - atribuição de crédito bancário). A todo este dinheiro, arranjou-se uma forma de ganhar, ainda mais dinheiro com esta transformação das Escolas Secundárias, atribuíndo um valor de 1,65euros por metro quadrado às Escolas que ocuparem estes espaços remodelados. Só em 2011, a Parque Escolar espera angariar com estas rendas cerca de 50 milhões de euros, não sabendo, ao certo, quantos anos duram cada contrato com as Escolas envolvidas neste negócio. Este valor servirá para despesas de manutenção do edifício, assegurado pela Parque Escolar e para amortização do empréstimo bancário realizado ao BEI.


A verdade é que estes 50 milhões que a Parque Escolar espera receber das Escolas Secundárias não vai ser suficiente para cobrar as dívidas a serem pagas no imediato devido ao Crédito Bancário e às obrigações a que se comprometeram.

Ainda no mesmo tema, falta questionar a legalidade da adjudicação directa que realizaram para estas infra-estruturas. Nunca chegou a realizar um único Concurso Público, e apenas se convidaram ateliers de arquitectura por ajuste directo, chegando mesmo a existir ateliers que tinham, a seu cargo, até 11 empreitadas, num país onde a Ordem dos Arquitectos apesar de existir e de, nos seus estatutos, obrigar à abertura de concursos públicos neste tipo de situações (em que os valores são elevados) não se quis meter. Factualmente, percebe-se que existiu um favorecimento na escolha destas empreitadas realizadas por ajuste directo, ignorando a lei de abertura de Concursos Públicos, inviabilizando, assim, qualquer indício de legalidade destes processos governamentais, levantando as suspeitas e dúvidas legítimas, do costume.

Esta empresa é um espelho do que aconteceu nestas últimas décadas em Portugal. Inoperantes e sem apego à realidade das leis que regem este país. Operam sobre protecção governamental e regem as suas próprias regras do jogo, em nome do avanço tecnológico, económico, social e educacional deste país. Em suma, aproveitam-se do dinheiro alheio para criar buracos financeiros dos quais nunca serão responsabilizados aos olhos da justiça portuguesa.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A Lei do Trabalho.

Dando seguimento a estes temas que venho desenvolvendo de questões laborais na Função Pública, aparece hoje uma notícia no Jornal Público acerca da ameaça às chefias realizada pelo Presidente da Câmara de Faro, Macário Correia.

Iniciou uma guerra à burocracia que, diz, existir nas chefias da Câmara, instaurando quatro processos disciplinares a quatro funcionários que, segundo o próprio, não estão a tomar as medidas adequadas para acelarar os processos burocráticos da instituição em causa.
Estas ameaças parecem ter funcionando como coacção para alguns funcionários acelararem e despacharem os processos que têm em mãos (mais de 3000 em atraso) mas alguns outros não.
O autarca do PSD admite que um documento pode levar "semanas ou meses a despachar, mas nunca ficar anos sem resposta". Os processos de inquérito foram abertos por manifesta falta de zelo e irresponsabilidade.

Historicamente, já não é a primeira vez que o autarca tenta este tipo de manobras para aumentar a produtividade da instituição que preside. Em Tavira, onde foi igualmente, Presidente da Câmara tinha tentado esta mesma abordagem, no entanto, sem sucesso chegando a declarar que "a lei é corporativa e defende a incompetência".
Agora na Câmara de Faro diz que já detectou cerca de 50 funcionários que "...não fazem mais nada do que receber o ordenado".

Perante esta situação apenas posso levantar-me e bater palmas pela coragem e pelo despertar que sinto, mais que nunca, ser necessário levar a cabo em Empresas e Instituições Públicas. Falta empenho e vontade para as chefias tomarem este tipo de atitudes com quem mais as merece.

E Macário Correia acaba dizendo: "tem de haver alguém a dar uma pancada forte para despertar, e quem se portou mal tem de comer. (...)Se não fizer nada, o regabofe continua".

Fica a pairar, no entanto, uma dúvida: será que estas medidas vão, inevitavelmente, resultar em despedimentos de funcionários da Função Pública, alegando Justa Causa? Ou será tudo uma medida exercida com o intuito de criar pressão sobre as ditas chefias? Há que perguntar a razão que leva a não meter um incompetente na rua, de facto.

O Trabalho em Portugal (parte 02)

Facto #02


Hoje alguém se levantou e pediu um CD em branco. Neste local de trabalho existem contados. E, por coincidência das coincidências, sou eu o responsável por guardá-los e distribuí-los a quem me pede para efeitos laborais.

Ora, ao pedirem-me um CD eu resolvi perguntar para o que era, ao qual me responderam que seria para enviar a um Engenheiro que está no Alentejo e não "gosta" de aceder ao servidor da empresa para ir buscar certos e determinados ficheiros. Um empregado da empresa, refira-se. E esta pessoa não achou melhor solução que gravar um CD (que tem um custo), enfiar num envelope "alcochoado" (que tem um custo) e enviar pelo correio interno da empresa (que, igualmente, tem um custo).

Ao que eu, inocentemente, perguntei se não poderiamos enviar os ficheiros por mail. A resposta foi negativa, "...que era muito pesado".

Eu arranjei, deste que entrei nesta empresa, forma de enviar os ficheiros através de um Site que me indicaram e que permite enviar ficheiros gratuitamente até 2G de peso. E estes ficheiros a enviar pesavam apenas 6Megas...

Enfim, o custo desta operação foi suportada pela empresa, num tempo de contenção de custos e num tempo em que ninguém parece importar-se muito com isso. Que país este...

Gosto e Apoio.

A Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Talento organizaram uma iniciativa em que convidaram os portugueses residentes no estrangeiro a divulgarem ideias para os desafios que Portugal atravessa agora e que virá a atravessar no futuro.
O concurso serve para desafiar a diáspora portuguesa a lançar ideias e formar equipa com portugueses residentes em Portugal para, em conjunto, lhes darem vida, transformando-as em projectos nas áreas da Inclusão Social, Envelhecimento, Ambiente e Sustentabilidade e Diálogo Intercultural.

Mais de 200 propostas foram analisadas e chegaram agora as 10 finalistas:

1. The Lisbon GreenLab Experience .
Surge da necessidade de espaços em Portugal que promovam a cultura do consumo sustentável, querendo fomentar o uso de bens e serviços -de impacto ambiental reduzido, socialmente justos e economicamente viáveis. Será um espaço de reutilização de objectos - através de nova concepção - design e venda. Nas nossas cidades, deparamo-nos com objectos volumosos deixados na rua pela população. Os Serviços Municipais recolhem e armazenam-nos, sem qualquer rentabilidade. O GreenLab quer estabelecer protocolos com Autarquias e ser parceiro na política de reutilização e reaproveitamento. Neste espaço de transformação e criatividade estarão profissionais especializados nas áreas técnica, gestão e design. O espaço será multidisciplinar com várias actividades que promovam a sua sustentabilidade: Transformação/Venda de Peças; Galeria; Espaço Lounge Café Mercearia Justo (Bio/FairTrade); Formações/Workshops (Educação Ambiental/Ecologia/Eco-Design); e ainda uma Horta Urbana.

2. Dê-me a Mão.
Criar uma rede de voluntariado, integrada com as redes já existentes nas grandes unidades hospitalares, que possa apoiar de forma personalizada, a vinda de idosos a consultas e tratamentos, acompanhando-os desde a chegada do transporte público até ao seu regresso.
A população mais idosa e carenciada de localidades interiores do país têm dificuldade de aceder a tratamentos e consultas nas grandes unidades hospitalares por falta de recursos financeiros que se agravam com a necessidade de um acompanhante que os oriente na cidade. Este apoio deveria ser integrado com as Ligas de Amigos já existentes na maioria dos hospitais, de forma a que o utente se sentisse acompanhado em todo o processo.

3. Reabilitação a Custo Zero.
A ideia consiste em criar uma organização sem fins lucrativos que ofereça a possibilidade a senhorios de prédios degradados de reabilitarem o seu imobiliário a custo zero. Para tal, os proprietários oferecem alojamento e alimentação a estudantes estrangeiros de arquitectura e engenharia que se voluntariam para conceber e concretizar a requalificação.
Os materiais e equipamentos necessários à realização das requalificações seriam doados como caridade à organização sem fins lucrativos de modo a serem deduzíveis dos impostos a pagar pelas empresas fornecedoras. Para além das contrapartidas financeiras, as empresas teriam também o seu nome associado a um projecto honroso e potencialmente de elevada exposição pública.
Por último, a supervisão técnica das obras resultaria de uma parceria com a Universidade. Os projectos de requalificação seriam casos de estudo em cursos de reabilitação de edifícios e assim sujeitos ao acompanhamento técnico por parte de professores e alunos especialistas.

4. Culinarium.
Tal como as crianças aprendem a ler, a escrever, a contar ou a fazer desporto na escola, o projeto CULINARIUM propõe que as crianças também devem aprender a cozinhar para terem uma dieta equilibrada e uma vida mais saudável.

O projeto CULINARIUM pretende por isso a criação de hortas e cozinhas biológicas em escolas portuguesas com a ajuda voluntária de avós reformados. Pois quem melhor do que os avós, que têm tempo, paciência, mas sobretudo hábitos alimentares mais saudáveis para iniciar as crianças às práticas agrícolas e à cozinha?

Fazer voltar os avós à escola é uma forma de fazer reviver a gastronomia tradicional e de lhes proporcionar uma ocupação útil, enquanto os seus netos descobrem os segredos e a importância duma gastronomia rica e equilibrada.

O projeto CULINARIUM procura assim reforçar os laços familiares, combatendo a obesidade e o envelhecimento da população portuguesa de uma forma sustentável.

5. Dou.pt
Com certeza já teve de deitar algo fora sentindo uma pontada de remorso por o objecto ainda reter alguma utilidade. Haveria decerto alguém a quem daria jeito, mas quem?

O dou.pt é a ideia para uma plataforma nacional de doação de objectos reutilizáveis onde qualquer cidadão, empresa ou organização pode afixar publicamente a intenção de se desfazer de artigos indesejados, permitindo solucionar uma maçada logística com um gesto de cidadania. Criando um canal entre quem se quer desfazer e quem quer receber, transforma-se o desperdício e acumulação de resíduos numa solução elegante de desenvolvimento e qualidade de vida.

Permite a transacção de objectos singulares ou múltiplos, pontual ou recorrentemente, tendo como principais impactos:
-Aproximar cidadãos, entidades e comunidades
-Promover a cidadania
-Despoletar a responsabilidade social individual e empresarial
-Melhoria de qualidade de vida
-Capacitação logística de IPSS
-Fomentar o desenvolvimento sustentável
-Proteger o ambiente

6. O Livro.
Livros de autores portugueses e estrangeiros seriam audíveis pela rádio em todo o País. As pessoas de terceira idade, que hoje em dia estão "embrutecidas" ao ver televisão praticamente diariamente, com este projecto teriam uma abismal melhoria de qualidade de vida.
Para este programa funcionar seria preciso uma rede de pessoas habilitadas a gravar a sua voz a ler um livro. Podemos ir buscar estudantes de línguas a todas as faculdades do Pais, gravar uma pequena biblioteca e pôr na radio em loop, organizado por um capitulo de um certo livro a uma hora especifica em cada dia da semana. Podemos levar esta biblioteca a todo o Pais com um sinal de radio. A Edição desta radio poderia ser feita por estudantes de áudio-visuais.
Estes livros seriam acessíveis a todos os portugueses sem distinções, melhoraria a cultura dum país que é conhecido mundialmente pelos seus escritores.

7.Super-M.
Vamos criar uma rede de apoio às famílias actuais, a quem as horas escasseiam e as actividades se multiplicam!
As Mulheres cada vez mais se dividem em múltiplas super-mulheres ao longo do seu dia, tentando ser profissionais dedicadas, mães extremosas, taxistas de filhos ocupados, cozinheiras gourmet, professoras de apoio, zeladoras da saúde da família, e conseguindo sorrir a todos os desafios a que estão constantemente sujeitas.
São também quem sofrem mais os efeitos da crise ao nível do emprego e por isso este projecto permitirá criar uma bolsa de emprego local feminino (full time/part time), disponibilizando, por sua vez, uma série de serviços a outras mulheres para que estas possam ter mais qualidade de vida e possam proporcionar a quem mais amam aquilo para que muitas vezes não têm tempo!
O objectivo é ter o apoio que faltava à criança, à família, ao Idoso e até aos animais de estimação.
A Super-M pretende ser um projecto para mulheres que sabem o que custa ser sempre Super!

8. Teco-Planner.
A existência de vários operadores em vários pontos do país faz com que planear uma viagem de porta-a-porta a nível nacional por transporte público seja uma tarefa quase impossível. Isto cria uma barreira à efectiva utilização de alternativas ao automóvel.
A proposta consiste no desenvolvimento de um calculador de itinerários nacional online semelhante aos utilizados para procura de voos. A ferramenta planeará através da morada e/ou código postal do ponto de partida e de chegada uma viagem porta-a-porta utilizando transportes públicos. Determinará ainda o tempo, a tarifa e o impacto ambiental (medido em emissões de CO2) das diferentes opções e a poupança em relação ao automóvel e eventualmente ao transporte aéreo de maneira a que o utilizador possa fazer uma escolha consciente. Será possibilitado ao utilizador pesquisar, entre outras, a viagem mais rápida, mais "verde" ou mais económica.

9. A Mercearia.
As mercearias constituem um referente da identidade nacional. O avanço das grandes superfícies provocou o seu declínio, que se agudizou com a incapacidade de se renovar em termos de imagem, produtos e interação com os clientes. As mercearias são sempre centrais (inclusive na periferia) e detêm um elevado poder de inclusão social: são também espaço de interações sociais.
A nossa proposta consiste numa estratégia de remodelação do funcionamento e imagem da mercearia portuguesa, com vista a preservar a sua herança cultural, reposicionar o seu valor no mercado e hábitos sociais e estimular o consumo de alimentos e produtos de origem local.
Estratégia: estabelecer cooperações entre mercearias para se tornarem mais competitivas,iniciar mecanismos de interação entre mercearias e outras tipologias vizinhas com sucesso junto do público, fomentar novas parcerias entre merceeiros e produtores locais, intervenção na imagem (arquitectónica, identidade corporativa)de três mercearias piloto.

10. Ensinar Primeiro.
A ideia que proponho visa resolver problemas relacionados com a educação em situações de precariedade e desfavorecimento social, através da transformação de estudantes licenciados com excepcional mérito, em professores e líderes inspiradores.

Este programa, ou projecto, visa atrair e escolher estudantes graduados, que normalmente não tencionariam seguir o ensino como escolha profissional e colocá-los em projectos pedagógicos em escolas com problemas sociais ou educacionais em Portugal. Ou seja, escolas onde grande parte dos alunos são provenientes de classes sociais desfavorecidas ou onde o nível dos resultados escolares obtidos são considerados baixos.
O programa teria como objectivo assegurar que os participantes maximizariam o sucesso escolar dos alunos, a curto prazo, e ao mesmo tempo assegurar que desenvolvam um conjunto de habilidades transferíveis que tenham impacto na resolução de problemas educacionais do país no futuro. Grande desafio para os jovens envolvidos.






segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Trabalho em Portugal.

Hoje há um novo segmento que resolvi partilhar com muita gente que ainda não acredita que a Função Pública é um micro-cosmos da Sociedade Civil e os seus trabalhadores exemplos perfeitos do Estado da Nação.




Facto #01


Atrás de mim está um colega de trabalho que, como em qualquer outro dia, baixa a cabeça ainda agarrado ao rato do computador e dorme durante meia hora. Existem pessoas ao lado dele, atrás, à frente e a passarem constantemente ao seu lado no corredor deste "open space". As pessoas que notam este momento riem-se mas ninguém o acorda (se calhar porque, secretamente, bem lá no fundo, gostavam de poder fazer o mesmo). Há mesmo um que diz para os outros, com um ar irritado: "...xxiu, tá na hora dele!"


Pasmado, resolvo abrir uma gaveta e acabar com isto. Todos os dias é assim. Todos os dias...

domingo, 1 de maio de 2011

Nunca Fiando.

Basílio Horta, cabeça de lista do PS por Leiria, vai suspender funções no seu actual local de trabalho, o AICEP (aqui).

Uma atitude a salientar no meio de tanta demagogia e de tanta falta de vergonha dos políticos nacionais.

No entanto, apenas o fará pelo prazo de 30 dias. O que quer dizer que vai ficar dependente dos resultados eleitorais de 05 de Junho.
Mais uma vez, é pena ser sincero só por 30 dias, é como ser só "meio" honesto.

Tão apropriado agora como antes.

A Tourada
(ou a metáfora de um Governo decrépito, da hipocrisia da sociedade e os lucros indecentes de alguns)

"Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo…
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram asa canções."

José Carlos Ary dos Santos
1973